quarta-feira, setembro 27, 2006

A DÉCADA PERDIDA

Vinham pessoas de todos os gêneros no escritório do semanário, e Orrison Brown tinha com elas as mais diversas relações. Fora das horas de trabalho era “um dos editores” - durante as horas de trabalho era simplesmente um homem de cabelos encaracolados que, um ano antes, tinha editado o Fogo Fátuo de Dartmouth e agora desempenhava com prazer todas as missões indesejáveis do jornal, desde descodificar uma cópia ilegível a servir paquete sem título.
Tinha visto aquele visitante entrar na sala do editor – um homem pálido e alto de 40 anos, com uns cabelos loiros de estátua e umas maneiras que não eram nem envergonhadas nem tímidas, nem espirituais como a de monge, mas tinham parte das três coisas. O nome inscrito no cartão, Lois Trimble, evocara-lhe uma vaga recordação, mas, não tendo bases pra ela, Orrison não se posa meditar no caso – até soar uma campainha na sua secretária e a experiência anterior o avisar de que o Sr. Trimble iria ser o seu primeiro prato ao almoço.
- O Sr. Trimble... Sr. Brown – disse a fonte de dinheiro para todos os almoços – Orrison... O Sr. Trimble esteve ausente durante muito tempo. Ou antes, ele acha que foi muito tempo... quase doze anos. Há pessoas que se sentiriam felizes por terem perdido a última década.
- É certo – disse Orrison.
- Eu não posso ir almoçar hoje – prosseguiu o seu chefe – Leve-o ao Voison ou ao 21 ou onde ele quiser. O Sr. Trimble acha que há imensas coisas que não viu.
Trimble recusou delicadamente.
- Oh, eu arranjo-me sozinho.
- Eu sei, meu velho. Ninguém conhecia este sítio melhor do que tu noutros tempos... e, se Brown tentar explicar-te as carruagens sem cavalos, manda-no de volta. Estás de volta às quatro, não é verdade?
Orrison foi buscar o chapéu.
- Esteve fora durante dez anos? – perguntou enquanto desciam no elevador.
- Tinham começado a fazer o Empire State Building – disse Trimble – Quando foi isso?
- Por volta de 1928. Mas, como disse o chefe, teve sorte em perder muita coisa – Tentando apalpar o terreno, acrescentou: - Provavelmente, viu coisas mais interessantes.
- Nem por isso.
Chegaram à rua e, pela forma como o rosto de Trimble se contorceu perante o rugido do trânsito, Orrison arriscou de novo:
- Esteve fora da civilização ?
- De certa maneira – As palavras eram ditas de forma tão comedida que Orrison concluiu que aquele homem na falaria, a menos que quisesse faze-lo, e simultaneamente perguntou a si mesmo se ele não teria passado 30 anos numa prisão ou num manicômio.
- Este é o famoso 21- disse – Prefere comer noutro lado?
Trimble parou, olhando cuidadosamente para o prédio de arenito castanho.
- Ainda me recordo de quando o nome 21 começou a ficar famoso – disse – Mais ou menos no mesmo ano em que o Mariarity. – Depois prosseguiu, quase a desculpar-se. – Pensei que pudéssemos subir a Quinta Avenida durante cinco minutos e comer no sítio onde estivéssemos. Num lugar onde se veja gente nova.
Orrison dirigiu-lhe uma rápida olhadela e pensou de novo em grades, parede cinzentas e grades; perguntou a si mesmo se os seus deveres incluiriam apresentar o Sr. Trimble a raparigas complacentes. Mas o Sr. Trimble não parecia ter isso na idéia – a sua expressão dominante era de absoluta e profunda curiosidade, e Orrison tentou ligar o nome com o esconderijo do almirante Byrd no pólo Sul ou com aviadores perdidos em selvas brasileiras. Era, ou tinha sido, uma pessoa importante – isso era óbvio. Mas a única pista definitiva quanto ao seu ambiente – e para Orrison essa pista não o levava a parte alguma – era a obediência do seu compatriota às luzes do trânsito e a sua predilecção por caminhar pelo passeio do lado das lojas e não do da rua. Certa vez, parou e olhou para a montra de camisaria.
- Gravatas de crepe – disse. – Nas as via desde que saí da Universidade.
- Qual freqüentou ?
- O Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
- Grande Universidade.
- Vou vê-la na próxima semana. Vamos comer em qualquer sítio por aqui... – Estava nas Ruas 50 superiores. – Escolha o senhor.
Havia um bom restaurante com um pequeno toldo mesmo à esquina.
- Que mais deseja ver? – perguntou Orrison quando se sentaram.
Trimble pensou um pouco.
- Bom... as nucas das pessoas – sugeriu – Os pescoços delas... a a forma como as cabeças se unem aos corpos. Gostaria de ouvir o que aquelas duas meninas dizem ao pai. Não exatamente o que dizem, mas saber se as palavras flutuam ou mergulham, como se fecham as suas bocas depois de acabarem de falar. Apenas uma questão de ritmo... Cole Porter voltou aos Estados Unidos em 1928 porque sentiu que havia novos ritmos no ar.
Orrison estava seguro deter agora a sua pista, e, com uma magnífica delicadeza, não a perseguiu – reprimiu mesmo um súbito desejo de lhe dizer que naquela noite haveria um excelente concerto no Carnegie Hall.
- O peso das colheres – disse Trimble - ... tão leves. Um pequeno recipiente com um cabo fixado. A expressão do olhar daquele criado. Conheci-o em tempos, mas ele não se lembra de mim.
Mas, quando saíram do restaurante, o mesmo criado olhou para Trimble, um pouco desorientado, como se quase o reconhecesse. Quando saíram, Orrison riu-se:
- Ao fim de dez anos as pessoas esquecem-se.
- Oh, eu jantei ali em Maio passado... – Interrompeu-se abruptamente.
Tudo era muito esquisito, conclui Orrison – e, subitamente, decidiu-se transformar-se em um simples guia.
- Daqui tem uma bela vista do Centro Rockefeller – apontou com entusiasmo – e do Edifício Chrysler e do Edifício Armistead, o pai de todos os novos.
- O Edifício Armistead – Trimble voltou a cabeça obedientemente. – Sim... fui eu quem projetei.
Orrison abanou a cabeça, divertido – estava habituado a sair com gente de todos os gêneros. Mas aquela história de ter estado no restaurante em maio passado...
Parou diante da placa de latão na primeira pedra de edifício. “Construído em 1928”, lia-se nela.
Trimble acenou com a cabeça.
- Mas comecei a embebedar-me neste ano... passei a estar permanentemente bêbado. Por isso nunca o tinha visto antes.
- Oh. – Orrison hesitou. – Quer entrar?
- Já lá estive... muitas vezes. Mas nunca o vi. e não é agora que me interessa ver. Agora não seria capaz de lá entrar. Só quero ver como as pessoas andam e de que são feitas as suas roupas e seus sapatos e chapéus. E os olhos e s mãos delas. Importa-se de me dar as mãos?
- De forma nenhuma.
- Obrigado. Obrigado. Foi muito amável. Suponho que pareça estranho, mas as pessoas pensarão que estamos a despedir-nos. Vou subir a avenida a pé durante algum tempo, de modo que estamos mesmo a despedir-nos. Diga no seu escritório que eu estou lá às quatro. Orrison ficou a vê-lo afastar-se, esperando vê-lo entrar num bar. Mas nada havia nele que sugerisse ou tivesse alguma vez sugerido a bebida.
- Meu Deus – disse para si mesmo. – Bêbado durante dez anos. Subitamente, experimentou a textura do seu próprio casaco e depois estendeu a mão e esfregou o polegar no granito do edifício a lado.

F. Scott Fitzgerald
1939

quinta-feira, setembro 21, 2006

MOVIMENTO “DISSEMINAÇÃO DA BOA MÚSICA”

Aderindo à Jhonny Bee Good, estou a partir de agora falando de música. Falando não, até porque não sou um "crítico mané" que fica falando uma pá de besteira do que não sabe, estarei aqui indicando boas bandas e álbuns perfeitos. Decidi falar de música, a partir de ontem (20 de setembro de 2006), quando ouvi o melhor disco do ano de 2006, embasbacado. Um não, foram especificamente dois álbuns “American Lesion” (1997) e “Cold as the Clay” (2006), de uma só vez. O autor?, Dr Gregory Walter Graffin III, ou Greg Graffin, mais conhecido como o “vocalista do Bad Religion”, o cara. Apesar do atraso e ignorância, conheci ontem o trabalho solo deste gênio biólogo. Os álbuns são simplesmentes FANTÁSTICOS. Pra se ter uma idéia prévia da coisa – para quem ainda não teve o prazer de ouvi-los -, imagine o som do Bad Religion, mas sem as guitarras, a bateria e o peso do hardcore, mas com um violão, um piano e outros acompanhamentos mais, e, claro, mais o vocal do gênio, tudo isso num estilo mais calmo, um acústico em uma session privê. Já antecipo aos atrasados como eu, o resultado é simplesmente de arrepiar qualquer ser ouvinte de música boa. Escolha o lugar e os acompanhamentos (seja inventivo, use o que aumenta o poder da visão) e boa viagem.
O melhor de tudo, é que as coisas não pararão em 2, com certeza, muitos mais virão, porque, ali, a cartola é grande e não faltarão coelhos, eu garanto.

21 de Setembro de 2006

terça-feira, setembro 19, 2006

Atomica Melancolica

Contra-Revolução

A conclusão foi óbvia, lógica...havia aderido ao sistema.

quinta-feira, setembro 14, 2006

LEALDADE

Roberto e Brígida comemoravam o terceiro encontro, desde a conturbada noite em que se conheceram. Até o momento, tudo estava simplesmente perfeito, desde a estatura de ambos - é claro, porque em qualquer relacionamento que se preze, desde uma simples “ficada”, no mínimo, o homem tem que ter a mesma altura da mulher, e mais, ela calçando um salto alto, senão, tudo é piada -, até a companhia na cerveja gelada do botequim da esquina. O papo fluía fácil, sem qualquer esforço, nem uma simples pausa ocorreria, nem mesmo uma busca de um assunto novo no fundo do poço craniano era necessário, tudo era harmônico.

- Roberto, há tempos não encontrava alguém como você, me parece até surreal, às vezes me pego beliscando o braço para acreditar em tudo isso, tudo é perfeito, acho que realmente estou me interessando por você.

Roberto se sentiu um pouco encabulado no momento, sentiu uma certa vergonha, uma timidez, não estava muito acostumado com aquela estranha situação, mas ao mesmo tempo, se sentiu forte e o ego estava full, masculinidade preponente e aparente. Já com um sorriso de orelha-a-orelha, disse:

- Você também é uma pessoa bem diferente das outras, mas a gente se conhece há pouco tempo pra eu falar algo mais, mas já digo que você é uma pessoa muito interessante, e acima de tudo, muito bonita.

Brígida se mostrou um pouco espantada, as bochechas avermelharam-se, não estava preparada para ouvir aquilo, apesar de não ter sido nada tão profundo e com alto teor de romantismo cinematográfico, como os últimos encontros não foram muito proveitosos e agradáveis, não durando mais de algumas horas, aquele momento foi todo especial. Devido à iluminação intensa do lugar, começo a se preocupar com aparência do seu rosto, uma vez que já sentira o rosto queimando e o coração saltando. “Eu devo estar parecendo um pimenta”, pensou.

- Rô, preciso ir ao banheiro um momento, já volto.

Ela nem tinha pensado muito bem no que havia dito, porém se lembrou de ter empregado uma abreviação horrenda ao se referir a ele, e ter usado a palavra “banheiro”. Caminhou toda preocupada pelo corredor e pensou: “ - Devo ter estragado tudo, como pude dar esse vacilo, espero que ele não tenha escutado aquilo tudo”.

Não demorou mais do que 3 minutos, voltou apressada para mesa, onde ele esperava-a sorrindo. Ela precisava dizer algo diferente, mais o quê?. Sem pensar novamente, falou:

- Roberto, fale um pouco mais de você, me fale de suas qualidades.

Roberto endureceu na cadeira, que papo era aquele de falar das qualidades dele, o que ela pretendia como aquilo, mas resolveu dar de ombro e falou:

- Acho muita pretensão da minha parte falar das minhas qualidades, deixo isso pra você descobrir ao longo do tempo, prefiro te falar dos meus defeitos.

Brígida não acreditou no que havia escutado, ficou muda, não sabia o que falar, nem mesmo o que fazer, permaneceu estática e muda.

O silêncio perdurou absoluto por exatos 37 minutos.

Pediram a conta, dividiram as despesas. Roberto acompanhou-a até o teu carro. Abriu a porta, se beijaram. Acenou algo com o braço esquerdo.

Aquele foi o último ato, eles nunca mais se viram.

14 de Setembro de 2006

quarta-feira, setembro 13, 2006

Pra ouvir no talo

Arctic Monkeys. Ouçam.

Pra quem gosta de Strokes, White Stripes, Franz Ferdinand, até os "fofinhos" Los Hermanos, ficou pequeno. Esses "muleques" acertaram a mão. "Whatever people say I am, That´s what I´m not" é o primeiro álbum. Sujo, mas bem feito. Ingênuo, mas animalesco. Tosco, mas grandioso. E rápido, muito rápido. Tocam em suas apresentações como se fosse sempre a última.
Alex Turner - vocal e guitarra, Jamie Coock - guitarra, Matt Helders - bateria e Nick O´Malley - baixo. Todos eles não se quer completaram 25 anos e já tem como fãs gente como David Bowie e Sir Mick Jagger. Esses inglesinhos com espinha na cara ainda, são de Sheffield, Inglaterra e começaram a fazer um barulhinho em meados de 2002, propagando-se por quase todos os ipods europeus. Das pistas para o mundo, ou melhor para os ipods e daí para o mundo.
A Música I Bet You Look Good in the Dance Floor merece estar com certeza na lista das 5 melhores canções de rock de 2006, se não for a melhor. Fala daquela garota que dança numa pista qualquer como se estivesse em transe deixando nós, pobres moleques, de queixo caído. E por mais intocável que esta pareça ser, acaba passando a noite com aquele que pode ser eu ou você.
Enfim, meus queridos, porque música não se fala nem discute. Se ouve.

Arctic Monkeys. Recomendo.

terça-feira, setembro 12, 2006

Eloqüencia!

Nunca, nunca desperdice a chance de permanecer em silêncio.

segunda-feira, setembro 11, 2006

CRAQUES E GATAS DE LUXO

"Amigos, é justo que o craque seja tratado a pires de leite como uma gata de luxo. Não importa que ele seja indolente como a própria gata de luxo. O gênio da bola não gosta de se matar em campo. Enquanto o jogador medíocre trabalha, faz mais força que o remador de Ben-Hur, o craque passeia na grama."

Nelson Rodrigues

sexta-feira, setembro 08, 2006

Crescimento

Vamos falar da realidade da vida e de como as pessoas a enfrentam. Pesado para meu primeiro texto, mas eu gosto de desafios.

Cansei de receber e.mails com aquelas correntes: "mude", "use filtro solar", "leve a vida numa boa", "encontre outra maneira diferente de enfrentar os mesmos problemas".......acho q vcs tb já receberam, não?
Vamos então à construção das idéias que martelam no pensamento quando lemos esses textos:

1) Esse cara sim é feliz;
2) Ele só escreveu isso porque ele mudou de vida;
3) Putz, é mesmo! Amanhã vou fazer outro caminho para ir trabalhar;
4) Falar é fácil. Quero ver se ele estivesse no meu lugar?;
5) Será que todo mundo é assim, só eu que não?
6) e dezenas de outras idéias que nos assolam nesse momento.

No dia seguinte você levanta e pensa naquelas idéias, agora já mais organizadas na cabeça - porque nosso cérebro tem uma capacidade imensa de organização enquanto dormimos, reparem nisso - e então percebe que metade daquilo tudo é blábláblá e que a outra metade faz um pouco de sentido. Então, empolgado, você começa a colocar aquela metade importante em prática.

Passa uma semana e você ainda pensa naquilo tudo. Na segunda semana já acha que está absorvendo aqueles aprendizados. Na terceira semana já começa a esquecer....... Meses depois você se vê na mesma situação que estava antes de ler aquele monte de e.mail, mas percebe que tem alguma coisa diferente acontecendo. Essa “coisa diferente acontecendo” é seu pensamento trabalhando de acordo com aqueles aprendizados que você absorveu porque julgava importante para você.

E assim, acontecem sucessivos aprendizados. Não só com os e.mails que recebemos, mas com as pessoas que nos rodeiam, com as experiências que vivemos, os jornais que lemos, o futebol que jogamos, a balada que perdemos, os amigos que nos aconselham, e tudo mais!!

Assim se constrói as pessoas.

terça-feira, setembro 05, 2006

Dúvida.

Qual a diferença entre um bosta e um merda?