quinta-feira, setembro 14, 2006

LEALDADE

Roberto e Brígida comemoravam o terceiro encontro, desde a conturbada noite em que se conheceram. Até o momento, tudo estava simplesmente perfeito, desde a estatura de ambos - é claro, porque em qualquer relacionamento que se preze, desde uma simples “ficada”, no mínimo, o homem tem que ter a mesma altura da mulher, e mais, ela calçando um salto alto, senão, tudo é piada -, até a companhia na cerveja gelada do botequim da esquina. O papo fluía fácil, sem qualquer esforço, nem uma simples pausa ocorreria, nem mesmo uma busca de um assunto novo no fundo do poço craniano era necessário, tudo era harmônico.

- Roberto, há tempos não encontrava alguém como você, me parece até surreal, às vezes me pego beliscando o braço para acreditar em tudo isso, tudo é perfeito, acho que realmente estou me interessando por você.

Roberto se sentiu um pouco encabulado no momento, sentiu uma certa vergonha, uma timidez, não estava muito acostumado com aquela estranha situação, mas ao mesmo tempo, se sentiu forte e o ego estava full, masculinidade preponente e aparente. Já com um sorriso de orelha-a-orelha, disse:

- Você também é uma pessoa bem diferente das outras, mas a gente se conhece há pouco tempo pra eu falar algo mais, mas já digo que você é uma pessoa muito interessante, e acima de tudo, muito bonita.

Brígida se mostrou um pouco espantada, as bochechas avermelharam-se, não estava preparada para ouvir aquilo, apesar de não ter sido nada tão profundo e com alto teor de romantismo cinematográfico, como os últimos encontros não foram muito proveitosos e agradáveis, não durando mais de algumas horas, aquele momento foi todo especial. Devido à iluminação intensa do lugar, começo a se preocupar com aparência do seu rosto, uma vez que já sentira o rosto queimando e o coração saltando. “Eu devo estar parecendo um pimenta”, pensou.

- Rô, preciso ir ao banheiro um momento, já volto.

Ela nem tinha pensado muito bem no que havia dito, porém se lembrou de ter empregado uma abreviação horrenda ao se referir a ele, e ter usado a palavra “banheiro”. Caminhou toda preocupada pelo corredor e pensou: “ - Devo ter estragado tudo, como pude dar esse vacilo, espero que ele não tenha escutado aquilo tudo”.

Não demorou mais do que 3 minutos, voltou apressada para mesa, onde ele esperava-a sorrindo. Ela precisava dizer algo diferente, mais o quê?. Sem pensar novamente, falou:

- Roberto, fale um pouco mais de você, me fale de suas qualidades.

Roberto endureceu na cadeira, que papo era aquele de falar das qualidades dele, o que ela pretendia como aquilo, mas resolveu dar de ombro e falou:

- Acho muita pretensão da minha parte falar das minhas qualidades, deixo isso pra você descobrir ao longo do tempo, prefiro te falar dos meus defeitos.

Brígida não acreditou no que havia escutado, ficou muda, não sabia o que falar, nem mesmo o que fazer, permaneceu estática e muda.

O silêncio perdurou absoluto por exatos 37 minutos.

Pediram a conta, dividiram as despesas. Roberto acompanhou-a até o teu carro. Abriu a porta, se beijaram. Acenou algo com o braço esquerdo.

Aquele foi o último ato, eles nunca mais se viram.

14 de Setembro de 2006