A PLATEIA QUE ASSISTI
Assistir uma partida de futebol da Seleção Hexacampeã na presença de um grande público é algo um tanto quanto exótico. Em fronte a uma Tv, sem comentário, a platéia é eclética, estranha, são seres de outro mundo. Não entendem absolutamente nada de futebol, apenas torcem pra sair gols, ver gols. Muitos gols. A fauna é diversificada. Gente da primeira, terceira e quarta idade. Tem de tudo, desde um ser vestindo uma camisa de seu time preferido (gambás, tricolor das laranjeiras e pós de arroz são os preferidos) - estes são os gurus da bola, entendem de tudo, resumindo, são uns porra -, até as velhinhas que não sabem nada do que está acontecendo. A vestimenta é o forte. As camisas da pátria verde-amarela são hegemômicas, com uma, duas, três, quatro, cinco, seis e até sete estrelas, acreditem. Bandeiras, bandeirolas, apitos, cornetas e cartolas, tudo está lá. Muito barulho. Gritos, vaias, urros e todo o tipo de som possível. A fauna feminina comandava o barulho. Estas assistem o movimento da bola em uma histeria anormal, fora de controle, inexplicável. Nos comentários a coisa é generalizada. Os comentários são ruins e péssimos, essa é a classificação. Todos são técnicos e comentaristas. Comentam de tudo, da escalação à substituição, do uniforme à comemoração. O cara de preto é um dos mais citados, é inevitável. Ninguém nunca sabe o nome do infeliz, só o chamam de “O juiz”. “O bandeirinha” também é alvo. Os dois bandeirinhas viram uma pessoa só, só existe “O bandeirinha”, não importa o lado, eles são um só ser. O bandeirinha errou novamente, e ponto final. Tudo é pênalti, tudo é falta. Palavrões, putz, são inúmeros, incontáveis, e muitos até inéditos. Mas algumas são de praxe: “Puta que o pariu”, “Porra”, “Filho da Puta” e “Caralho”. Nisso tudo, o “Caralho” domina, não tem pra ninguém, sai a toda hora e a todo lance, durante todo os 90 minutos, é espontâneo, fluente, um som de domínio público. Os 90 minutos são torcidos e contorcidos em cada um de seus segundos. E nos minutos finais do jogo se pula GOL. O grito é único e coletivo, GOL. O grito dura muito, se estende e desabafa. É apenas mais um gol da seleção hexacampeã do mundo, mas é único e eterno, memorável. Depois da histeria, se houve ao fundo um dos gurus da bola “- Quem é esse Fred ?”, silêncio, “- Nunca ouvi falar desse cara !” * . Simplesmente, inacreditável. Todos pasmos. Silêncio. Fim do jogo, todos se levantam e a vida continua. “- Estou com fome, o que tem para comer ?”. Essa é a platéia de assisti
* “Fred” (Frederico Chaves Guedes, jogador do Lyon), um dos reservas da seleção brasileira. Marcou o segundo gol do Brasil na vitória contra a Austrália. Brasil 2 x 0 Austrália.
20 de Junho de 2006
* “Fred” (Frederico Chaves Guedes, jogador do Lyon), um dos reservas da seleção brasileira. Marcou o segundo gol do Brasil na vitória contra a Austrália. Brasil 2 x 0 Austrália.
20 de Junho de 2006
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