segunda-feira, novembro 27, 2006

ALGUMAS POUCAS LINHAS DE ARTHUR

"...Pessoas comuns e superficiais podem nos oferecer, graças à matéria, livros muito importantes, uma vez que o tema só era acessível a elas. É o caso, por exemplo, das descrições de países distantes, de fenômenos naturais raros, de experimentos realizados por elas, de histórias das quais tiveram tempo e dedicação para investigar e estudar.
Em contrapartida, quando o importante é a forma, já que a matéria é acessível a todos, ou já conhecida, portanto quando apenas é o que é pensado pode dar valor ao esforço de pensar sobre esse tema, só uma mente de destaque é capaz de nos oferecer algo digno de ser lido.
...A diferença em questão, entre a matéria e a forma, mantém sua validade mesmo no que diz respeito à conversação. O que torna um homem capaz de conversar bem é a compreensão, o critério, o humor e a vivacidade que dão à conversação sua forma. Mas, logo em seguida, entra em consideração a matéria da conversa, portanto o que se pode falar com determinada pessoa, seus conhecimentos. Caso eles sejam restritos, apenas um grau extraordináriamente alto de das qualidades formais mencionadas pode dar valor à sua conversa, já que a conversaçãose dirige, no que diz respeito ao tema, às circunstâncias naturais e humanas conhecidas por todos. Acontece o contrário quando uma pessoa não tem essas qualidades formais, porém seus conhecimentos sobre um determinado tema dão à sua conversação um valor que se baseia exclusivamentena matéria, o que está em consonância com o ditado espanhol: mas sabe el necio en su casa, que el sabio en la agena [mais sábio o ignorante em sua casa do que o sábio na casa alheia]."

Arthur Schopenhauer
"A arte de escrever"